TSE deu resultado às 20h13. Com quase 100% apurados, petista tem 56% dos votos.
Dilma foi eleita presidente neste domingo
(31) superando José Serra (PSDB) no segundo turno. O resultado foi
anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 20h13, quando ela já
não podia mais ser alcançada pelo adversário.
O vice-presidente eleito, deputado federal e presidente da Câmara,
Michel Temer (PMDB-SP), acompanhou o pronunciamento, assim como dezenas
de políticos aliados entre governadores, ministros, senadores e
deputados, entre os quais o ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP) e José
Eduardo Dutra, presidente do PT, ambos da coordenação da campanha da
petista. Ao chegar, ela foi recebida ao coro de “olê, olê, olê, olá,
Dilma, Dilma” e depois os aliados cantaram o Hino Nacional.
Liberdades de imprensa e religião
No pronunciamento, além da erradicação da miséria, Dilma também
destacou como compromissos a liberdade de imprensa e a liberdade de
religião. Mas ressalvou que o "primeiro compromisso" no cargo é "honrar
as mulheres".
“Esse fato é um avanço democrático do Brasil. Pela primeira vez uma
mulher presidirá o Brasil. Meu primeiro compromisso é honrar as mulheres
brasileiras para que este fato, até hoje inédito, se torne natural”,
disse.
Ela prometeu valorizar a democracia “em toda a sua dimensão” e fez
questão de destacar que o seu governo será pautado pelo respeito à
“ampla liberdade de imprensa e religiosa”.
“Farei um governo com ampla de liberdade de imprensa, religiosa e de
culto. Vou zelar pela observação criteriosa dos direitos humanos e
zelarei pela nossa Constituição”, disse Dilma no início do discurso.
Noutro momento de sua fala, voltou a falar da imprensa. "Prefiro o
barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", declarou a
presidente eleita, para quem as críticas do jornalismo "ajudam o país".
"Não nego que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram
tristes, mas quem, como eu, lutei pelo direito de opinião, dedicamos
toda a nossa juventude ao direito de expressão somos amantes da
liberdade."
Economia
Na parte econômica do discurso, Dilma destacou que, no curto prazo, não
será possível contar com ajuda das economias mais desenvolvidas e que o
Brasil precisará apostar em seu mercado interno.
“No curto prazo, nós não contaremos com força das economias
desenvolvidas para puxar nosso desenvolvimento. Por isso, se torna
importante nossa política, nosso mercado e nossas decisões econômicas”. A
petista afirmou que não há intenção de “fechar o país ao mundo” e que
vai trabalhar para abrir mercados e defender a regulação nos mercados
internacionais.
A presidente eleita afirmou que seu governo vai manter a inflação sob
controle, melhorar os gastos públicos, simplificar a tributação e
melhorar os serviços para a população.
Ela disse que não fará “ajuste” que comprometa esses serviços e que tem
como meta um crescimento "sustentável" de longo prazo a taxas elevadas.
“Acima de tudo, quero afirmar compromissos com metas econômicas,
contratos firmados e conquistas estabelecidas”.
Ela afirmou que vai criar mecanismos para beneficiar pequenos
empresários. “Ampliarei o Supersimples [regime de tributação
diferenciado para pequenas empresas] e construirei modernos mecanismos
de aperfeiçoamento econômico, como fez o nosso governo.”
Segundo a presidente eleita, em seu governo “as agências reguladoras
terão todo o respaldo para atuar com autonomia e determinação”.
“Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de atuação
governamental e trataremos com transparência nossas metas e resultados.”
Oposição
Dilma afirmou que não discriminará governantes de oposição. "Aos
partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram
conosco nesta caminhada estendo minha mão a eles. De minha parte não
haverá discriminação", declarou.
31/10/2010 20h15
- Atualizado em
31/10/2010 23h24
Conheça a trajetória da primeira mulher presidente do Brasil
Dilma Rousseff nasceu em Belo Horizonte em 1947.
Presidência é seu primeiro cargo eletivo.
Marília Juste
Do G1, em São Paulo
Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert Filho)
A primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma Vana Rousseff, é
uma mineira radicada no Rio Grande do Sul, filha de uma professora e de
um imigrante búlgaro. Neste domingo (31), a economista – e avó – de 62
anos conquistou o direito de exercer seu primeiro cargo eletivo. À
trajetória dela se misturam alguns dos episódios marcantes da história
recente do Brasil, como a resistência à ditadura, a redemocratização do
país e a consolidação de uma ordem política equilibrada entre dois
blocos pelo PT e pelo PSDB.
Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte. Entrou na
política ainda no antigo colegial, na oposição ao regime de exceção
instaurado em 1964. Começou na Organização Revolucionária Marxista –
Política Operária (Polop), movimento que, na sua origem, era uma espécie
de coalizão de dissidentes, com quadros do PCB, do PSB e do
trabalhismo, além de trotskistas e outros marxistas. Na Polop, ela
conheceu o primeiro marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares. Ao
lado dele, mais tarde, optou pela luta armada e se juntou ao Comando de
Libertação Nacional (Colina).
saiba mais
O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel conheceu Dilma nessa
época e é amigo pessoal da nova presidente até hoje. “A Dilma é, e
sempre foi, uma pessoa muito inteligente, acima da média. Ela tem uma
bagagem cultural muito grande, lia muito desde menina, talvez por
influência do pai”, conta. O pai, Pedro Rousseff (Pétar Russev, na
língua materna), era um imigrante búlgaro que criou os três filhos com
rigidez europeia em Minas Gerais. A mãe, Dilma Jane Silva, era
professora.
Em 1970, quando já fazia parte da Vanguarda Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), Dilma Rousseff foi presa pela Operação Bandeirante e
detida no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde foi
torturada. Condenada pela ditadura, foi levada ao Presídio Tiradentes.
Foi libertada no fim de 1972 e se mudou para Porto Alegre, terra de seu
segundo marido Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem teve sua
filha, Paula.
“Dilma teve uma experiência muito dura na prisão”, conta Pimentel. “Por
isso, é uma pessoa que conhece muito bem onde estão os seus limites.
Isso faz dela uma mulher muito forte”, diz o ex-prefeito.
Na capital gaúcha, ela cursou ciências contábeis na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul de 1974 a 1977. Com a volta de Leonel
Brizola ao país após a Anistia, Dilma se filiou em 1980 ao recém-fundado
Partido Democrático Trabalhista (PDT). Até 1985, ela trabalhou como
assessora de deputados do partido na Assembleia Legislativa do estado.
Dilma (no alto) com a família (Foto: Roberto
Stuckert Filho)
“Dilma tem uma biografia política relativamente recente”, afirma o
cientista político Marcelo Coutinho, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). “Ela começa com um papel em um momento histórico muito
importante para o país. Depois, se retira, passa a se dedicar mais à
família e reaparece no Rio Grande do Sul, para atuar junto ao PDT”,
explica.
O ex-governador do RS Alceu Collares conta sobre a atuação de Dilma nos
primórdios do PDT. “Dilma estava junto com a gente desde o começo das
conversas sobre o que a gente queria que fosse o movimento dos
trabalhistas”, conta. “Fizemos reuniões para montar nosso plano de
governo para Porto Alegre. Grande parte desses programas foi feita na
casa dela”, diz ele.
Em 1987, Dilma foi secretária das Finanças da prefeitura da capital
gaúcha, sob a gestão de Collares. Em 1989, virou diretora-geral da
Câmara dos Vereadores. Quando Collares foi eleito governador do estado,
Dilma passou ao cargo de presidente da Fundação de Economia e
Estatística (FEE) do RS, onde ficou de 1991 a 1993, quando virou
secretária de Energia, Minas e Comunicações.
“Escolhi a Dilma para as duas secretarias porque ela sempre demonstrou
muita experiência. Ela é uma mulher determinada”, afirma Collares.
“Dizem que ela é brava. Não é. É determinada”, afirma.
Com o fim do mandato de Collares, a nova presidente do Brasil voltou
para a FEE, até 1997. Em 1998, Olívio Dutra, do PT, foi eleito
governador com o apoio do PDT de Dilma e ela voltou à Secretaria de
Energia, Minas e Comunicações. Mas quando Brizola e o PDT romperam com
os petistas, Dilma e outras lideranças do partido no Rio Grande do Sul
optaram por deixar o PDT e se unir ao PT de Dutra.
“Ela vinha de uma linha brizolista, mas sempre teve uma ligação muito
forte com o PT, então não foi uma grande surpresa”, diz Coutinho.
Dilma ficou no cargo até o fim do governo Dutra, em 2003, e participou
das negociações do governo do Rio Grande do Sul com o governo federal
para gestão da crise energética de 2001.
Governo Federal
Quando Lula assumiu o governo, Dilma foi chamada para assumir o
Ministério das Minas e Energia e evitar um novo apagão. “É aí que ela
passa a ter um papel de fato importante”, avalia o professor da UFRJ.
“Dilma teve ampla liberdade para montar sua equipe e fez um trabalho
positivo”, afirma Coutinho. “No mais, é uma passagem que se destaca por
uma forte lealdade ao presidente Lula, que garante que ela abra espaço
no governo”.
Dilma Rousseff em campanha em Belo Horizonte,
ao lado de Fernando Pimentel
(Foto: Roberto Stuckert Filho)
No ministério, Dilma apresentou um modelo para mudar a regulamentação
do setor elétrico, mantendo a presença privada, mas aumentando as
funções de regulamentação e controle do Estado. E lançou o projeto “Luz
para Todos”, para levar energia elétrica às áreas rurais ainda não
atendidas pelas redes principais do país.
Após o escândalo do mensalão, que derrubou o então ministro-chefe da
Casa Civil, José Dirceu, Dilma foi convidada por Lula para a função, em
2005. “Na Casa Civil, Dilma coordenou todas as ações do governo, as bem e
as mal sucedidas”, diz Marcelo Coutinho.
Ali, ela trabalhou na formulação do principal projeto do segundo
mandato de Lula, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), um conjunto
de iniciativas de infraestrutura, habitação, transportes e geração de
energia. Repetidas vezes, durante o lançamento do projeto e a campanha
presidencial de 2010, Lula a chamou de “mãe do PAC”.
Para Alceu Collares, a popularidade de Lula na presidência se deve
diretamente ao trabalho de Dilma. “Quando o Dirceu estava lá, a Casa
Civil fazia encaminhamentos de projetos. Com a Dilma, passou a cuidar da
execução de projetos”, diz ele. “A minha observação é que a Casa Civil
passou a ter alguém que estava fazendo um bom trabalho, começou o
aumento na popularidade do presidente”, avalia.
Em abril de 2009, Dilma convocou uma coletiva de imprensa para anunciar
que estava se submetendo a um tratamento contra um câncer em seu
sistema linfático. Após sessões regulares de quimioterapia em São Paulo,
seus médicos anunciaram que ela estava curada em setembro do mesmo ano.
PSDB - Serra
Serra diz que deseja que Dilma 'faça bem' ao Brasil
Ele afirmou que respeita a "voz do povo nas ruas".
Tucano afirmou que enfrentou "forças terríveis" durante a campanha.
Carolina Iskandarian e Mariana Oliveira
Do G1, em São Paulo
O candidato do PSDB à Presidência, que perdeu a disputa para a
candidata do PT Dilma Rousseff, afirmou na noite deste domingo (31) que
deseja que a nova presidente "faça bem" ao Brasil.
"Nós recebemos com respeito e humildade a voz do povo nas ruas. Quero
cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff e desejar que faça bem ao
nosso país", afirmou em pronunciamento iniciado pouco depois das 22h30
deste domingo.
José Serra faz pronunciamento em São Paulo
Ele ainda agracedeu a votação recebida no segundo turno. "Disputei com
muito orgulho a Presidência e digo aqui, de coração, quis o povo que não
fosse agora, mas sou grato aos 43 milhões e 600 mil de brasileiros e
brasileiras que votaram em mim. Muito obrigada a vocês de todo nosso
país."